quarta-feira, 20 de julho de 2011

A dura realidade e a nova referência sul-americana

  Não é novidade que muitos dos dirigentes das instituições esportivas brasileiras estão matando um país rico também em matérial humano, um país que poderia ser uma potência em todos esportes. Os Nuzmans e Teixeiras da vida, juntamente com a também óbvia complacência do poder público - minimamente negligente - provam dia após dia, ano após ano, que o importante é o próprio interesse, o próprio bolso, como disse  Caio Fiusa no ótimo post de ontem. O retrato disso é a evolução pífia em cada esporte - com raras excessões - que provoca desempenhos cada vez mais limitados nas competições, apesar de nossas possibilidades. Especialmente nas competições de esportes coletivos. Vide Olimpíadas. De um modo geral, nos destacamos quando um ser de talento muito acima da média consegue superar as limitações estruturais e alcança um resultado surpreendente. Nossos maiores talentos esportivos, nossas grandes vitórias, são nos esportes individuais.

  Dito isso, vamos ao que cabe a Ricardo. Acordemos para o que acontece com a nossa seleção.

  Duas Copas do Mundo fora das semi-finais e ainda partimos do intuitivo e soberbo princípio de que somos a melhor seleção do mundo. É fato: há duas Copas somos apenas os quintos melhores. O "maior celeiro de craques" continua sem ganhar uma Olimpíada - o último desempenho foi de chorar - e continuamos a fazer de jovens promessas, craques quase prontos. Atenção amigos, para o que vêm agora. A partir da primeira semi-final da Copa América 2011, está confirmado: não somos nem os melhores das bandas de cá!


  Esse posto, ao qual a Argentina (também por problemas estruturais, só que de amplitude muito maior) não ocupa há quase duas décadas, pertence ao Uruguai(independente do resultado da final da Copa América). Salve a Celeste! Agora muito mais que olímpica. Para quem duvidava do muito bem conquistado quarto lugar no último mundial, os uruguaios são finalistas do torneio de seleções da CONMEBOL. E antes que digam que continua sendo pouca coisa... nessa sempre dura competição, nós ficamos pelo caminho... nas distantes quartas-de-final... acrescente um excelente desempenho no Mundial sub-17, onde nos venceram por 3 x 0 e avançaram à final, o vice-campeonato no sul-americano sub-20, que os garantiu nos Jogos Olímpicos depois de muitos e longos anos, o Peñarol não por acaso finalista da Taça Libertadores e chegamos a conclusão: hoje, somos nós quem temos que aprender com os outrora reis da catimba...

  Silenciosamente, a federação uruguaia vem desenvolvendo um trabalho de caça e desenvolvimento de talentos há anos, que re-coloca - que bom - este país de apenas 4 milhões de habitantes de volta como um grande do mundo da bola. Tal trabalho gera frutos a curto, médio e longo prazo e descarta uma falsa manutenção de uma geração depois de um sucesso, ou uma raramente produtiva renovação após um fracasso. Jogadores experientes, diriam velhos, não foram descartados, mesmo que não estejam em boas condições para o Mundial que se adivinha. Renovação racional e natural, afinal eliminatórias, Copa América e até meros amistosos, podem estragar planos, destruir carreiras. Jogadores desta seleção brasileira que chamamos de craques têm média de 19 anos. Lucas, Neymar, Paulo Henrique Ganso, Pato. Deu no que deu. A tão pedia renovação resultou na volta para casa bem antes do desejado. Amedronta pensar que, não fosse a próxima Copa no Brasil, teríamos Eliminatórias contra os mesmos complicados conjuntos dessa Copa América.


  A vitória do Uruguai contra o Peru, que credenciou os celestes à final, foi conquistada com três reservas e sem um meia de qualidade, mas com padrão e variáveis táticas, jogadores de qualidade duvidosa, desprezada por muitos clubes daqui. Estabilidade psicológica de quem quer que entrasse. Do jovem Coates, passando pelo caneleiro Abel Hernández até "El Cacha" Arévalo Ríos. O Uruguai prova e ensina que é muito, muito melhor manter uma equipe sólida, forte e sempre entrosada, produzir uma geração de valor (e não jogadores de valor) desde a base, renovar gradualmente. O conjunto é forte, nível A, mesmo com muitos jogadores de nível B e até C.

  A inspiração é azul celeste, e as estrelas da nossa bandeira precisam ser lapidadas ainda. A camisa tem que colocar medo, como o forte conjunto uruguaio.

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