sábado, 29 de outubro de 2011

Cariocas de bola cheia


Nunca antes na história do Brasileiro dos pontos corridos, os quatro grandes do Rio ficaram tão próximos na luta pelo título. A sete rodadas do fim, o mais perto do céu é o líder Vasco, campeão da Copa do Brasil, vaga já garantida na Libertadores do próximo ano. Soma 57 pontos, dois a mais do que o Corinthians. O Botafogo, apesar da derrota para o Avaí (3 a 2) no sábado, mantém-se em terceiro, com 52, mesma pontuação do Flamengo. O Fluminense, outro que perdeu na rodada (2 a 0 para o Atlético-MG), também teve ferimentos leves: segue em quinto, à frente de São Paulo e Internacional. Enquanto os matemáticos refazem as chances de título — 52%, 8%, 4% e 2%, respectivamente, contra 33% do vice-líder paulistano —, os torcedores testam a fé na reta final do campeonato e os analistas discutem as razões desse "fenômeno".

Alguns consideram que a hegenomia paulista nos últimos anos, especialmente do São Paulo, começou a ser rompida em 2009, com a surpreendente arracanda do Flamengo de Andrade rumo ao sexto título brasileiro. No ano passado, o Fluminense de Muricy Ramalho repetiu a dose. Para Kleber Leite, ex-vice-presidente do Flamengo, o êxito indica melhor preparação dos times cariocas:

— A partir de 2005, o Flamengo deixou de brigar para não cair e começou a conquistar títulos. Isso em função de uma série de situações internas, sempre com muitos problemas, mas com gente competente em todas as áreas. Agora, a mesma coisa aconteceu dentro dos outros clubes.

O jornalista Eduardo Tironi, editor do diário esportivo "Lance!", percebe um progresso na gestão dos clubes cariocas. Segundo ele, Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo estão mais organizados e alinhados ao modelo de pontos corridos iniciado há oito anos:

— Os clubes estão com administrações mais profissionais. Alguns já têm CTs (centros de treinamento), os salários não atrasam mais. O profissionalismo está chegando ao Rio de Janeiro, e isso se reflete no desempenho.

O professor de Marketing Esportivo da PUC-Rio, Luiz Léo, tira o cartão amarelo. O especialista não reconhece evolução admistrativa e acha “surreal” os quatro disputarem o título:

— Eles vão contra a lógica — avalia — As gestões são amadoras e sem infraestrutura. A ascensão pode ser explicada pelo colapso de administrações tradicionais dos clubes do Sul, de Minas e de São Paulo, à excelção do Corinthians, que está bem, e o Santos, que está focado em outra competição (o Mundial de Clubes da Fifa, no fim do ano).

Tironi também identifica um declínio em gestões de clubes mineiros, ameaçados de rebaixamento, mas exclui desse declínio os grandes times paulistas. Na opinião do jornalista, observa-se a consolidação de uma hegemonia de Rio e São Paulo, proporcional às maiores concentrações de torcidas, de renda e de investimentos no futebol.

— Os clubes mineiros sofrem muito sem o Mineirão — acrescenta Tironi — Mas só estamos atentos à crise neste ano porque todos estão muito mal. A exceção é o Cruzeiro, porque o Atlético, em quase todos os anos, briga para não cair. E o América, quando sobe, desce novamente com rapidez.

Para Kléber Leite, a recuparação conjunta dos times do Rio é uma "coincidência cronológica" que resulta dos trabalhos desenvolvidos fora de campo:

— O Maurício Assumpção (presidente do Botafogo) deixou o marketing do clube muito ativo, além de ter uma sensibilidade incrível na montagem dos times. O Roberto Dinamite e o José Hamilton Mandarino, no Vasco, contrataram pessoas que ajudassem no desenvolvimento do futebol. E o Fluminense, apesar de criticado por alguns, tem uma parceria esportivamente vencedora. Esses fatores fizeram com que os times voltassem a sonhar com títulos.

Uma coisa é certa: com as emoções desse campeonato, nada melhor que a taça permaneça na cidade maravilhosa para coroar o bom futebol do Rio.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Bem dosado


   Essa é uma grande banda atual. Quem conhece, já ouviu falar, mas nunca parou para ouvir, deve começar. Para quem gosta de um rock bem enérgico e ao mesmo tempo um som mais experimental, os Arctic Monkeys são a pedida perfeita. É bem dosado. Dos quatro álbuns lançados até hoje, você consegue ir da vontade de pular incessantemente em um show deles, até querer um momento mais reflexivo e “degustador” em conforto caseiro.                                                         Podem não ser os melhores instrumentistas, mas arranjam com total excelência. Fazem o que a música pede. O riff certo de guitarra no momento certo. Um solo nem sempre tão virtuoso, mas que se encaixa perfeitamente à música. Um riff criativo de baixo que passa a ser notado durante toda a música, segurando muito bem. Uma bateria violentamente enérgica sempre com grande utilização do chimbau. O vocal nervoso e potente em um grande refrão ou passagem.


   Ao vivo fazem a diferença. A energia é claramente visível. Se perceberem, as melhores e maiores bandas são sempre assim, executam um desempenho ao vivo melhor que gravado. Graças em parte ao grande frontman Alex Turner. O cara realmente faz a diferença. Escreve com grande aptidão a ironias e opiniões próprias sobre o que vê no cotidiano inglês e americano. Alex utiliza-se de metáforas sempre bem elaboradas e um pouco nonsense. Mas afinal, sempre tem um sentido, pelo menos para quem escreve.

   

   Quando o assunto é relacionamento, quase sempre escreve em terceira pessoa sobre “um cara” que perdeu a garota por diversos motivos e por não ter feito o que deveria. É quase sempre um desabafo, um questionamento ou uma difamação sobre alguém que ele parece estar diretamente falando. Diversidade de sonoridade mais uma grande performance ao vivo, um grande frontman e letras bem elaboradas só poderiam resultar em uma coisa: uma grande banda de rock ‘n’ roll.


   Para realmente facilitar a vida de vocês poucos que leem isso e nunca tiveram a coragem de baixar seus álbuns e ouvirem seus sons, deixo aqui, já "mastigado", o link para os quatro álbuns deles. Segue abaixo do vídeo. Desse jeito é fácil demais, meu amigo.

                  "That's all Folks!" ou em bom português: "Por hoje é só, pessoal!"


                                                                                 http://www.4shared.com/file/rbfn5aJm/Favourite_Worst_Nightmare__200.html


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Blue Moon no céu 2

   Já há tempos eu queria escrever sobre o Manchester City, mas hoje, com a goleada histórica de 6 a 1 sobre o rival Manchester United em Old Trafford, não tive como evitar. Do jogo, tudo já foi dito e explicado, dessa vez faremos um resumo da atual situação  do time do sheik Khaldoon Al Mubarak. É com certeza um candidato ao título inglês. Com nove jogos, o City já venceu oito e empatou uma só vez num total de 33 gols marcados. Um início de torneio brilhante para um time que apenas foi favorito ao título do torneio nos últimos anos antes da temporada começar. Agora as chances são reais.

   O atual campeão da Copa da Inglaterra trouxe para a temporada 2011/2012 grandes nomes em ascensão.  Um deles é o excelente lateral-esquerdo Gaël Clichy, que veio do Arsenal e preenche no time uma posição outrora carente. Outro é o meia francês Samir Nasri, que também veio do Arsenal e não é mais uma promessa, tendo lugar cativo nos azuis de Manchester. Mas as grandes contratações da temporada até agora são o Bósnio Edin Dzeko, que já marcou seis gols e o argentino Sergio Agüero, que já conta com oito gols no torneio, atrás apenas de Wayne Rooney.

   O time mais rico do mundo e liderado pelo polêmico técnico Roberto Mancini está no caminho certo, mesmo não tendo um excelente início no dito “grupo da morte” da Liga dos Campeões da Europa. O forte elenco conta com outros nomes de peso como Mário Balotelli, David Silva, Kolo Touré, Yaya Touré, Nigel de Jong, Hargreaves e Gareth Barry. Além de Carlitos Tévez, que já não se pode mais afirmar se está ou não no time devido às últimas polêmicas envolvendo seu nome. Os Citizens (ou Blues) vêm dando muito orgulho aos convencidos ex-Oasis Noel e Liam Gallagher, torcedores do time. Com razão.

domingo, 23 de outubro de 2011

Blue Moon no céu

  Bem disse Mauro Cezar Pereira, da ESPN: "temos um novo grande no campeonato inglês!" E não poderia ser diferente. Num final de semana (que ainda não terminou) em que tivemos hat-trick de Prince Boateng e de Cristiano Ronaldo - com gol de coice deste último - e vitória de dois times da zona-da-degola contra aspirantes ao título abrindo a reta final do Campeonato Brasileiro, o time azul de Manchester goleou sonoramente o maior rival.

  Manchester United x Manchester City fizeram um jogo cheio de apostos. O pré-jogo já anunciava um pacto entre as duas torcidas contra Carlitos Tevez, que, provando ser o mala que é, nunca mais será bem-visto na cidade, pela forma errada e ofensiva que afirmou querer deixar o City e a cidade de Manchester. Eram esperadas - mas não estiveram presentes - caçambas de lixo, para que torcedores vermelhos e azuis despejassem suas camisas com referências ao argentino.

  Outro fator foi o personagem de oposição à Tevez. O também polêmico-problemático Mario Balotelli foi bancado pelo técnico Roberto Mancini e começou como titular. Assim, fez um primeiro gol de quem conhece o caminho das redes. Um toque sutil e a camisa levantada: " Por que sempre eu?" perguntava, sem comemorar muito, o italiano.

  O jogo continuava e o sheik via seu time impenetrável. Um United com supervalorizados Young e Welbeck só conseguia chutar de fora da área, sem perigo.


  No início da segunda etapa, Evans foi expulso e os azuis apenas confirmaram o que já era visto no sorriso do torcedor. Uma equipe jogando à Barcelona. Milner, Barry, Silva... todos jogando muita bola. E só foram vistos golaços. Seis golaços. Até gol de patela, o primeiro do suplente Edin Dzeko. Fletcher ainda descontou com um belo gol.

  Se você não viu, acredite. O Manchester City venceu o United por 6 a 1, em Old Trafford. O aglomerado de feras se transforma em equipe. Defesa forte, opções fartas para o banco, e um toque de bola que nos anima para um futuro encontro com os famosos da Catalunha.


  Na Premier League, bem... o rival não foi páreo. Restam Chelsea, e, com muito boa vontade, Liverpool e Arsenal, tentar parar a equipe Blue Moon rumo ao caneco.

  Usando clichê, "pintou o campeão".

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Amistosos: males bem-necessários

  É realmente muito estranho. Enquanto os outros dão a vida por vaga na Copa do Mundo, nós temos que fazer do mais esdrúxulo adversário um alguém importante. É preciso acreditar. Mais do que entender.

  É mesmo difícil aceitar que com o campeonato brasileiro pegando fogo, seu time perca os jogadores mais importantes para a Costa Rica. É chato. Nem audiência dá, creio.

  O que devemos entender é a necessidade. Quanto mais a seleção jogar e destruir o torneio que for agora, menos problemática será a situação em 2014. Sim, porque o amante da bola tem seu time no coração sempre, mas na Copa do Mundo a seleção precisa estar 100%. Vencendo, convencendo, empolgando e goleando. O que precisamos acreditar - e ver - é que cada jogo nos deixa uma história que não é esquecida por Mano Menezes. Para o mal ou para o bem.


  Quem não se lembra da voadora de Hernanes contra a França? Da  paçocada do André Santos contra a Alemanha e do cochilo do Douglas contra a Argentina? O Mano também não esqueceu do migué do Marcelo. Geladeira para a marra e a volta em grande estilo. Bom para a seleção. Hernanes pôde voltar também, todos são passivos de erros e a qualidade do polivalente é inegável. André Santos e Douglas têm seus poréns.

  E é nesses poréns que quero chegar. As oportunidades aos concorrentes. Oportunidades que vão, aos poucos, moldando o grupo e fazendo com que cada um vá cavando sua vaga - pela qual é preciso lutar para se manter também. Oportunidades que só são possíveis com mais e mais jogos.


  Contra a Argentina, Bruno Cortêz justificou uma próxima - e muito mais que provável convocação. A dezesseis, por hora, é sua. Hulk mostrou que dá profundidade e variáveis táticas a equipe e se firma na disputa no ataque.


  Como é bom ver Ronaldinho tomando conta do meio-de-campo. Consciente de que as pernas pesam, de que não é mais possível arrancar como outrora, ele se torna o meio-campista idealizado em Paulo Henrique Ganso. O jogo contra a Argentina teve Rômulo e Danilo bem. Em algum momento, lá atrás, Luiz Gustavo foi acionado e agradou. Fernandinho dá boa dinâmica ao meio, apesar de não ser unanimidade. Dedé se firmou no grupo dos quatro beques, Jéfferson deve tomar a vaga de Júlio César depois da partidinha que fez contra o México.


  Vê? Todos esses "detalhes" construídos à base de amistosos. É importante treinar a capacidade contra os grandes, adversários constantes nas fases agudas, e contra os pequenos, que volta e meia produzem surpresas.

  Se não há eliminatórias, que venham amistosos. Que venha o Gabão!

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Primavera dos Povos

  Regina repousou a xícara de café puro desequilibradamente sobre a mesa da cozinha, enquanto passava o olho pelo jornal à procura de novas notícias. Não ia trabalhar. O banco havia entrado em greve e ela rezava em si por um reajuste que cobrisse pelo menos a inflação iminente. Leu o que não agradava - “os seis maiores bancos que operam no Brasil lucraram R$ 25,9 bilhões no primeiro semestre de 2011” – e desceu para checar a correspondência.

  No térreo, só o radinho de pilha do porteiro ligado e o pequeno Maicon brincando de ajudar o pai no serviço quebravam o clima lúgubre daquela manhã de terça-feira. O menino correu, sorridente, e denunciou suas ‘férias’. Severino girou lentamente a respeitável barriga para corrigir o filho a tempo.

  - É, dona Regina, os professô num tão querendo mais trabalhá por merreca não – disse abafado pelo bigode grisalho.

  Nada de cartas na caixa. Foi quando ela se lembrou de ter visto algo estranho sobre Correios no periódico, e sentiu uma espécie de compaixão oficial por aquela gente parva e por si mesma.
  Subiu no elevador com Sérgio, seu vizinho de baixo, e, em vinte e cinco segundos, não falou sobre o tempo que tinha virado, mas descobriu que o mestre de obras também não ia trabalhar e o porquê lhe soou familiar. Os anônimos que ajudavam a erguer o monumento de R$860 milhões para a festa em 2014 não recebiam os R$160 de cesta básica que queriam. Não tinham plano de saúde e ganhavam comida estragada na hora almoço.

  À noite, logo após o jantar, Regina deitou junto ao marido e ele achou estranho. Consumida por um medo visceral e inexplicável, tratou de procurar conforto no ombro sempre firme do homem. Não achou ruim ver esporte na tv àquela altura. Achou que, se tudo estava saindo dos trilhos, se algo estava balançando, queria ver os robóticos atletas milionários promovendo algum espetáculo.


  Não mais. No canal internacional, a poderosa liga de basquete americano estava estagnada. Ele achou estranho, mudou. Gostava das raquetes também, mas os tenistas não apareceram para exibir seus fortes patrocínios. Não toleravam mais as jornadas desumanas de jogos e as lesões seguidas e irreversíveis. O modelo esportivo ruíra.

  Um olhou para o outro. Ele sabia que a Justiça Federal logo estaria na mesma e então poderia passar mais tempo em casa. Ela suspirava, aliviada, por fazer parte do mesmo mundo cretino que as estrelas internacionais. Entre os dois, harmonia. E ali, nos lábios do proletário, um beijinho de anarquia.

sábado, 1 de outubro de 2011

O personagem da semana

  Já era imaginado que, podendo ser convocados apenas jogadores que atuam no país, ele estaria presente. No primeiro jogo ele não entrou. Porém, no segundo duelo válido pelo Superclássico das Américas, Cortês - ou Cortez, ou até Bruno Cortês - foi simplesmente o melhor do jogo.

  Pode parecer pouco, considerando o nível técnico do time adversário, mas Cortês foi um dos que fizeram do amistoso útil para Mano Menezes. Iniciou a jogada dos dois gols, apoiou, marcou(mesmo sem tanta qualidade, o que lhe é característico), driblou, chamou a responsabilidade. Foi importantíssimo. Fez a camisa seis pesar, mas para o adversário, depois de um longo tempo... Bruno deve estar na próxima convocação, que poderá contar com jogadores do exterior. Ele, o volante vascaíno Rômulo e Réver - melhor que Dedé nos dois jogos, devem ser as "surpresas" da lista.

  É muito legal parar para analisar o Cortês. Sim, muito já foi dito sobre ele. E sim, é sempre bom rever e pensarmos que o mundo é muito mais dos esforçados do que dos gênios. Aos vinte e quatro anos, ele passou do mínimo Goytacaz para o Nova Iguaçu, chegou ao Botafogo e à seleção. Humildade, simpatia, velocidade, cara-a-tapa, Cabelo. Carisma, quanto carisma. E um salário de quatro mil reais...

  Está obtendo renovação para passar a receber salário digno de um jogador de seleção, digno de melhor do país em uma posição extremamente carente.

  É bem possível - diria até provável - que este figuraça não alcance o nível alto na Europa. Mas de qualquer forma, é uma figura rara no meio esportivo. No meio humano.

  Cortês é a prova viva de que o sucesso e a fama não precisam vir acompanhadas de soberba, prepotência, nariz em pé, arrogância, e etc.

  Bruno nos ensina que a vida pode ser ao mesmo tempo bem sucedida e rica de valores.


                                         Parabéns, Bruno Cortês. O ousado.