segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Marianna Eis: "o The Voice foi só um pontapé inicial"

Marianna Eis e seu violão apresentaram Moves
Like Jagger
 e conquistaram Cláudia Leitte
"Uma menininha cor-de-rosa", foi o que disse Cláudia Leitte para definir Marianna Eis. O The Voice Brasil mostrou que a estudante é muito mais que isso. Com 21 anos de uma voz doce, músicas e projetos, a vocalista da banda Trinka conversou com o blog sobre sua participação no programa e sobre os próximos passos da banda.

O Agonizante: O que mudou na sua carreira depois do The Voice?
Marianna Eis: Consegui um público maior, consegui fãs, consegui mostrar meu trabalho para mais pessoas. Fui vista no Brasil inteiro, o assédio nas redes sociais também aumentou. Enfim, eu cresci pessoalmente e profissionalmente. Acho que o convívio com pessoas incríveis e supertalentosas ensina muita coisa, então eu aprendi muita coisa lá dentro.

OA: Sobre a batalha com a Ana Rafaela, o que você achou do seu desempenho?
ME: Para mim não foi uma batalha, eu levei mais como um dueto. Também não sei se seria uma música boa para nós cantarmos juntas. Mas foi uma batalha que eu curti, apesar de eu ter perdido. Eu gosto muito da Ana, nós ficamos muito amigas lá dentro e torci muito por ela também. Eu acho que poderia ter ido melhor, mas ela foi muito bem e mereceu ganhar.

OA: Como você faz para conciliar a faculdade de jornalismo com a banda?
ME: Pois é, eu faço muita coisa, sempre fiz muita coisa. Eu fui tenista, depois entrei na faculdade de jornalismo, agora estou com a música. Mas a música, com certeza, é a minha prioridade. Em primeiro lugar a música, depois a faculdade, depois qualquer outra coisa. Porque a música é a minha vida, eu quero viver disso! Tenho muitos planos, tem muita coisa para acontecer, e acho que o The Voice foi só um pontapé inicial.
Carol Mathias, Manuella Terra (ao fundo, na bateria)
e Marianna Eis formam a banda Trinka
OA: A Trinka é uma banda só de meninas. Vocês enfrentam mais curiosidade pelo som de vocês ou veem ainda preconceito?
ME: Preconceito a gente não sofre, mas a gente participou, no começo, de muitos festivais. Festival de Rock, festival até de Metal, que é um som mais pesado, e nós tocamos um som mais tranquilo. Preconceito nunca houve, mas sempre alguém dizia: “ah, são meninas, não levam muito à sério”. Mas, normalmente, depois que nos veem tocando, eles respeitam, acham legal. Nunca teve preconceito, só um pé atrás.

Para Marianna, o programa foi só a primeira
de muitas coisas boas que já estão vindo
OA: O que você e a banda pretende fazer para dar um passo à frente?
ME: Eu estou compondo para outros artistas, é um sonho meu também. Mas nós temos alguns shows marcados, estamos fechando outros já para o ano que vêm, tem muita gente pedindo shows. E a gente quer rodar o Brasil inteiro. A gente vai começar a gravar músicas novas ano que vem, estamos querendo ir para fora do Rio (cidade) - para que mais gente conheça o nosso som - e para o Brasil inteiro.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Paulo Loureiro: "Foi a batalha mais vista!"

Foto: Arquivo pessoal
Aos 42 anos, Paulo Loureiro pode ser considerado um artista pronto. Mesmo assim, participou do The Voice Brasil e protagonizou uma das batalhas mais polêmicas desta primeira edição do reality show musical. Abaixo você confere as opiniões de Paulo sobre o programa, a relação com outros participantes, e, logicamente, o que houve na apresentação de Closer.

O Agonizante: O que mudou na sua vida depois do The Voice?
Paulo Loureiro: A visibilidade que o programa proporciona é uma coisa inacreditável. Você começa a entender o tamanho da Globo, a velocidade com que as pessoas têm acesso a você – ainda mais hoje com as redes sociais – é uma coisa absurda. Eu fiquei no ar alguns minutos, se você somar, e hoje, na rua, as pessoas me conhecem. É uma coisa incrível mesmo. Enfim, a parte prática que essa visibilidade pôde trazer está vindo aos poucos.

OA: Você, que é o mais experiente que passou pelo programa, já elogiado por nomes como Djavan e Ed Motta. A quantidade de show já aumentou?
PL: Com certeza. Agora, no fim do ano, as pessoas ainda estão na expectativa de saber quem vai ganhar o programa. Mas com certeza já aumentou bastante, o nível das propostas também aumentou bastante.

OA: Sobre o duelo com o Breno, que rendeu uma boa discussão sobre um duelo de gritaria ou um duelo de potência. Estava ensaiado?
PL: Não, a própria música pedia isso, uma coisa meio R&B. O próprio Ed Motta explicou isso no dia, no parecer dele. A gente não ensaiou juntos! Somente via skipe mesmo, marcamos quem ia começar a fazer firulas. Mas não houve nada de pré-estabelecido. Eu não concordo com o Lulu Santos que a gritaria tenha atrapalhado. Nós fomos intensos, mas dentro da proposta musical. Foi a batalha mais vista!

Assista aqui a batalha entre Paulo Loureiro e Breno:
http://tvg.globo.com/programas/the-voice-brasil/videos/t/batalhas/v/breno-manda-bem-no-duelo-com-paulo-loureiro-e-vence-batalha/2201021/

OA: Os encontros para as batalhas não eram necessariamente lá dentro, então? Houve espaço ou foi a distância que não permitiu isso?
PL: Assim que a batalha é estabelecida, que as duplas se formam, nós temos um dia lá no qual a gente vê quem vai cantar o que primeiro, mas isso é muito rápido, feito para a TV mesmo. Quem quisesse se aprofundar nos ensaios, tinha que se encontrar “extra-Projac”, se programar fora dali.

OA: Você já cantou muito soul. Que avaliação que você faz, hoje, do soul no Brasil?
PL: O soul na verdade não é uma música considerada pop. É um estilo que acaba sendo popular também e As coisas acabam se confundindo. O grande expoente, hoje, é o próprio Ed Motta, que carrega essa bandeira mais à frente. Acho que o soul no Brasil teve uma fase áurea nos anos 1980, com o Cláudio Zoli e a Sandra de Sá. Tirando um ou outro, não vejo um vislumbre de soul no Brasil.

Foto: Arquivo pessoal
OA: Você manteve contato com outros cantores do The Voice. Conta como é essa relação com eles.
PL: Eu sou amigo da Bárbara Mendes há muitos anos, a gente faz shows semanais. O Marquinho OSócio também. Conheci a Liah, que tem grande chance de ganhar o programa. E tem uma galera que eu conheci lá, mas que a gente fala bastante, pelo facebook e pelo twitter. Quem participou do programa sabe a pressão que foi, então a gente acaba criando um elo muito forte, apesar da convivência não ser tão grande lá dentro. É um elo que se cria com uma pessoa que está passando pela mesma coisa. Mas o grupo todo que participou é bastante unido, nós temos um grupo fechado no facebook, só com os participantes.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Entrevista: Luiza Dreyer

Foto: globo.com
O The Voice Brasil termina neste domingo. Por isso, O Agonizante preparou um especial com alguns nomes que encantaram o país com seus talentos vocais ao longo do programa. A entrevistada de hoje é Luiza Dreyer. Há quatro anos no mundo da música, ela revela as principais mudanças proporcionadas pelas primeiras aulas de canto e critica a escolha dos jurados. Fique ligado que vem mais por aí.

O Agonizante: Porque resolveu se inscrever no The Voice?

Luiza Dreyer: Eu fiquei sabendo por família e amigos. Eles sempre falaram para eu me inscrever em programas como o do Raul Gil e o Ídolos. Mas quando chegou o The Voice, e era uma coisa da Globo, todo mundo sabia que ia ter um investimento maior, falaram mais ainda para eu me inscrever. E aí, minha tia fez a inscrição. Eu não estava muito motivada.

OA: Gostou do seu desempenho? Acha que poderia ter feito algo de diferente, até mesmo melhor?

LD: Ah, com certeza. Fiquei muito nervosa nas audições. Eram sete jurados olhando para nós e tinha uma câmera filmando. Eu falei que ia cantar Cássia Eller e o tecladista tocou uma versão meio ''enterro'' dela e eu sou mais rock n´roll. Eu não pedi para mudar e comecei a cantar. A música era Por Enquanto, minha voz ficou tremendo e não ficou legal. O próprio Boninho pediu para eu cantar a capela, sendo que eles não estavam deixando ninguém cantar assim, tinha que ser acompanhado. Aí eu cantei Amy Winehouse. Quando acabei os produtores vieram me dizer que eu tava muito mal quando cantei Cássia Eller mas depois ''baixou um santo'' quando cantei Amy.

OA: Porque você acha que o programa está fazendo tanto sucesso?

LD: Primeiro porque é na Globo, que já tem muita audiência. Segundo que eles já tem um formato de sucesso, que é do outro The Voice. Terceiro porque tem um investimento muito grande por trás, que talvez não tenha nos outros. E também, por ser muito organizado. Já vi a organização de outros, as pessoas sofrem nas filas. Tudo bem que no The Voice tem gente penando, tendo que voltar outro dia. Só que eu fui levada de carro todos os dias, sempre tinha alguém para me levar e buscar, sempre alguém me ligando. E foram escolhidas boas pessoas para apresentar e julgar. Além claro, dos cantores, que são a parte principal do programa e o motivo da audiência.

OA: Concorda com o formato? Acha justo?

LD: Se a gente pensa no formato, não é legal. Um músico tem que acrescentar ao outro. Mas no meu caso, na minha batalha, eu não preciso falar, o público já disse que não foi justo. Realmente, eu não achei justo o resultado, não achei que o Gabriel cantou melhor que eu. Tiveram outras batalhas que foram injustas também. Eu acho que seria justo se saísse o pior e não é assim. Então, é injusto.

OA: Você acha que nesses programas não se busca somente o bom cantor, mas também um perfil já estabelecido?

LD: Eu também acho. Acho que tem alguma outra coisa por trás às vezes. O Lulu Santos até comentou esse negócio da alma. Eu não sei o que leva ele a buscar a alma, porque o que eu sempre busquei foi cantar com a alma. Eu canto jazz, o Gabriel canta rock, não que o rock não tenha alma, mas a minha música sempre foi uma parada de vísceras, de alma, aí o Lulu vem e me manda o discurso de que fui eliminada por causa da alma. Foi uma coisa que me deixou chateada. Mas aí, quando a gente para para pensar, vê que é um jogo de imagem, então, a gente não posso ficar abalada com isso.

OA: O que mudou no seu jeito de cantar?

LD: Eu tive minha primeira aula de canto lá dentro com uma das melhores, a Nina Pancevski. E isso ajudou muito. Ela me deu muitas dicas. Antes do programa, eu fui a uma fonoaudióloga para ver se tinha algum defeito, trava língua, alguma coisa, mas acabou que eu não tinha. Hoje, antes de cantar eu faço alguns alongamentos, alguns trabalhos para a garganta e para a voz. Minha impostação é diferente, tento não exagerar em algumas coisas. E tem também a postura. Não é só cantar, tem muito de mexer com o público e saber conquistar a pessoa. Mudou bastante.

OA: Você acha que existe a preocupação dos jurados em eliminar alguém que futuramente possa fazer mais sucesso que outro participante que por ventura venha a ganhar?

LD: Não acho que existe essa preocupação. Eles foram selecionando justamente por ter o perfil do programa. Acho que todo mundo que está ali tem potencial para seguir carreira. A questão é quem vai conseguir lidar com todas as questões, ter a manha e a sagacidade de continuar. Tem muita gente que já saiu e não está fazendo show. Eu não sei o porquê. Eu estou agitando as minhas coisas e fazendo os meus shows. Parado a gente não pode ficar, principalmente agora.

OA: Como está a sua carreira depois da participação?

LD: Eu não tinha feito show para fora da cidade. Agora, tenho um marcado para Nova Friburgo, vou para São Paulo também, pretendo ir para a Bahia e outros lugares, mas como está no fim do ano, não estamos conseguindo marcar tudo certinho. Talvez eu vá viajar, então as coisas estão meio emboladas. Eu já tenho lugares marcados durante a semana. Estou fazendo dois shows por semana. Vou fazer um show com o Diego Azevedo que também é do The Voice.

OA: Você teme ser rotulada como ex-participante do The Voice? Tem a preocupação que as pessoas associem a sua imagem ao programa?

LD: Já estão me associando. Sinceramente, está sendo uma honra. Só tinha gente que cantava bem ali. E o programa está rolando, então, isso faz parte. Ao longo do tempo, a gente vai continuar com essa lembrança, mas vai desvincular. Nós temos nosso trabalho e vão ter outras coisas que vão chamar mais atenção que isso.

OA: Alguns cantores fazem grandes espetáculos na hora da apresentação. Acha que isso interfere na escolha dos jurados?

LD: Acho que sim. A questão do espetáculo conta muito. As pessoas que já tem um pouco mais de experiência e que tiveram a sagacidade para ter esse tom de espetáculo e dessa manha de palco, eles estão conseguindo ter um passo mais a frente.

OA: Qual o seu diferencial como cantora?

LD: Isso é mais vendo. Eu sinto que cada música que eu canto, por mais que seja a mesma, gosto de cantar de uma forma diferente. Quando eu canto uma música, eu sinto toda a letra que está sendo colocada. E eu tenho uma voz rouca, puxada para o Soul. Minhas apresentações são bem viscerais, da alma mesmo. Gosto de brincar com a música. Eu gosto muito de interpretar, fazer cover. Não é chegar e tocar. Quero fazer a pessoa sentir o que aquela música quis dizer. Por isso que eu entrei no The Voice, porque eu faço uma coisa séria e profunda. Gosto de mostrar o porquê eu estou aqui.

OA: Acha que pode ter sucesso por conta do seu estilo musical?

LD: Com certeza. Eu sou puxada para uma Cássia Eller, mais desleixada. Acho que é isso o que está faltando na música brasileira.

OA: Quais os projetos para 2013?

LD: Bom, os projetos eu vou deixar na curiosidade. Mas no momento, eu estou em um tributo à Amy, que está todo mundo pedindo e estou fazendo shows. Enquanto isso, estou tocando na Melt, às sextas. No futuro terão outros shows que eu pretendo fazer com clássicos de jazz, ou de repente colocar uma Cássia, ou até mesmo um MPB, isso aí eu vou levando conforme o meu coração mandar.

Entrevista realizada por telefone na última quinta, dia 6/12
contato: fiusa.caio@gmail.com

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Entrevista: Rodrigo Caetano

Foto: Ruano Carneiro
Figura importante na conquista do Brasileiro do Fluminense este ano, muito pela sua contribuição a montagem do elenco campeão, Rodrigo Caetano é diretor executivo de futebol. O ex-jogador começou a carreira como dirigente no Grêmio e passou pelo Vasco da Gama, onde ganhou destaque. Abaixo, você confere a entrevista exclusiva do diretor ao O Agonizante, onde ele fala sobre a relação do clube com a patrocinadora, sempre alvo de críticas das torcidas rivais.

O Agonizante: O Campeonato Brasileiro deste ano teve um número alto de jogadores estrangeiros e de repatriados, alguns já consagrados. Mesmo assim, a média de público foi muito baixa, até mesmo do campeão Fluminense. Tem alguma explicação para isso?

Rodrigo Caetano: Ela (média de público) não tem nenhuma relação com a vinda de jogadores estrangeiros. Realmente, os clubes estão investindo. Agora, isso é muito por conta dos horários e até da própria questão dos estádios que não têm a melhor segurança. Mas em compensação você pode observar o quanto aumenta a média de público em um jogo à tarde. Então, eu vejo muito mais pela questão dos horários e acesso aos estádios. É um problema estrutural.

OA: O preço dos ingressos é justo?

RC: Olha, qualquer evento hoje, é caro. O público que vai aos estádios talvez não seja aquele que tem condições de estar indo a um evento desse porte. É isso o que nós temos que discutir. Outra coisa é a quantidade de jogos no mês, que inviabiliza. Isso pesa muito para aquele torcedor assíduo.

OA: O que o Fluminense pretende fazer para melhorar a média de público?

RC: Eu espero que tenhamos sucesso no plano de sócio torcedor. Aí sim, teríamos um ingresso mais barato, mais facilidade na aquisição, consequentemente um aumento de público nos estádios. Isso que nós esperamos.

OA: O Campeonato Brasileiro foi apontado como o 17° torneio mais valioso do mundo. Qual a sua opinião sobre isso?

RC: O que eu sei, é que hoje, (o Campeonato Brasileiro) é a terceira maior liga em termos de pagamentos de direitos de transmissão. Então é um número expressivo, que bate com a maioria dos campeonatos do mundo. O futebol brasileiro caminhou para isso, se organizou melhor, os clubes têm uma gestão mais profissional e isso passa para o torcedor e para o público uma credibilidade maior.

OA: O Fluminense olha da mesma forma para os diferentes mercados como o brasileiro, sulamericano, europeu e até mesmo o asiático?

RC: Isso não é prerrogativa. Na verdade, nós buscamos sempre o bom jogador. Mas os mercados hoje inviabilizam. Por exemplo, você trazer um jogador da Europa, que está jogando ligas mais importantes fica difícil, a não ser que seja em final de contrato. Agora, a aquisição é cara em qualquer situação. O que nós vemos aqui, invariavelmente é que esses jogadores que retornam ao Brasil estão em término ou findando o contrato. Aí sim, se transforma em uma boa oportunidade de negócio.

OA: O Fluminense é conhecido pelo seu poder financeiro. Você acha que em termos de contratação, quando o clube desperta interesse em algum jogador, a pedida salarial do atleta aumenta por ser o Fluminense o interessado?

RC: O Fluminense tem hoje a credibilidade do mercado e para honrar os seus compromissos. Claro que tem no patrocinador um diferencial favorável muito grande. Não são todos os jogadores que tem remuneração acima do mercado. Então a coisa não é bem assim. Mas é algo que o mercado reconhece, sabe que o Fluminense é um clube organizado, com boas receitas e com credibilidade. E isso é um fator que muitas vezes favorece para atrair esses jogadores. Agora, se eles pensam em ganhar mais por ser o Fluminense, é uma situação que depende de cada caso.

OA: O Fluminense está preparado para não depender da patrocinadora?

RC: Eu não sei o porquê dessa pergunta sempre. Todos os clubes buscam um patrocinador, aí o Fluminense, que tem um ótimo é perguntado como é que está para se desfazer. Acho que a pergunta tem que ser contrária, para os clubes que não têm um grande patrocinador. O que tem que fazer para ter. E não para o Fluminense. O Fluminense tem que estar preparado para manter o patrocinador, se não é o melhor, é um dos melhores a nível de futebol brasileiro.

OA: O Brasileiro de 2012 foi o que mais teve jogadores estrangeiros inscritos na história da competição. Junto a isso, existe a regra de que cada time não pode relacionar mais de três por partida. Você acha que isso evita que o futebol nacional se torne dependente?

RC: Não vejo dessa forma. Volto a dizer, o bom jogador independe da sua nacionalidade. O futebol brasileiro sempre vai ser preservado. É o futebol que mais produz jovens talentos. Esse tipo de preocupação nós não precisamos ter, pelo menos por enquanto.


Entrevista realizada quinta feira, por telefone.
contato: fiusa.caio@gmail.com

sábado, 1 de dezembro de 2012

Entrevista: Ruy Cabeção

Foto: Lairto Martins
Ruy Bueno Neto começou a carreira no América/MG. Ganhou fama nacionalmente após se destacar com a camisa 2 do Botafogo, onde se tornou ídolo. Após passagens por grandes clubes brasileiros, acaba de disputar a Série C pelo Brasiliense-DF. Aos 34 anos, o experiente jogador revela bastidores da relação entre jogador e empresário e o desejo de ser treinador futuramente. Abaixo, você confere a entrevista exclusiva que o Cabeção deu para O Agonizante.

O Agonizante: Hoje, você tem contrato com alguém? Surgiu alguma proposta ou sondagem?

Ruy Cabeção: Estou sem clube. Sondagem tem, mas proposta concreta ainda não.

OA: Está esperando o ano terminar para decidir?

RC: Não. Estou esperando uma coisa bacana. A gente tem que analisar tudo, o time, o campeonato que vai ser disputado. Não estou trabalhando mais com escritório, não tenho nada assinado com nenhum empresário mais. Então, é direto comigo mesmo.

OA: Você passou por grandes clubes como Cruzeiro, Botafogo, Fluminense e Grêmio. Mas foi no Botafogo que você conseguiu destaque nacional. Foi a sua melhor passagem?

RC: Foi, porque a identificação com a torcida era e é muito grande. Mas, tiveram outros clubes em que eu tive momentos bons também. No próprio Cruzeiro, eu tive muitos, mas por ser mineiro, ser prata da casa do estado, o reconhecimento às vezes não é o mesmo. O Grêmio também, fiquei pouco tempo, mas fui eleito melhor lateral do campeonato gaúcho. Não tem um time específico. O carinho maior que eu carrego até hoje é da torcida do Botafogo.

OA: Você é lembrado pelo jogo da final do Carioca de 2006, no qual mesmo machucado, permanceu em campo. Foi o momento ou o jogo mais marcante da sua carreira?

RC: Tive muitos. Eu sou um jogador que tenho um reconhecimento maior do torcedor. Em Minas Gerais, algumas pessoas vinculadas à imprensa - eram minoria, mas de meios importantes - infelizmente tinham problemas pessoais comigo.  outros não reconheciam, prefiriam falar mal. No Cruzeiro, eu fiquei marcado por ter participado da jogada do gol de despedida do Sorín. No título mineiro do América/MG, eu que fiz a jogada toda sozinho para o gol do Alessandro. No Botafogo teve esse jogo. No Figueirense, quase fomos campeões da Copa do Brasil. E no Grêmio, a gente chegou a uma semi-final de Libertadores e foi a minha primeira. Cada time tem um momento.

OA: A sua passagem pelo Fluminense interferiu na relação com a torcida alvinegra?

RC: Não, de forma alguma.

OA: Foi bem recebido nas Laranjeiras?

RC: Sim. Tenho o respeito do torcedor por ter feito parte do grupo de 2009, que se livrou do rebaixamento.

OA: No início você era só Ruy, depois adotou o Cabeção. Alguma vez o apelido incomodou?

RC: Não. Esse apelido começou com a torcida do Cruzeiro, mas foi se firmar mesmo no Botafogo. Eu carrego desde criança, o pessoal da minha rua, do meu bairro, sempre me chamaram de Cabeção. Então, nunca incomodou não.

OA: Você falou do Grêmio, onde começou muito bem, marcando dois gols nos dois primeiros jogos. Depois saiu no meio do ano. Porquê?

RC: Eu saí exclusivamente por culpa do treinador. Eu tive um desentendimento com ele na semi-final da Libertadores. Eu iria ficar treinando em separado, mas o Celso Barros (presidente da patrocinadora do Fluminense) me ligou pedindo para ajudar o time e me ofereceu dois anos de contrato. Foi por isso que eu saí, se não, teria continuado lá. A diretoria, os jogadores e a torcida gostavam de mim.

OA: Se arrepende de ter saído do Grêmio naquela época?

RC: Não é questão de se arrepender ou não. Eu gostava muito de jogar pelo Grêmio. Na minha estreia eu fiz um gol, fui muito bem no Estadual, era titular absoluto, tinha muita coisa boa que poderia acontecer. Infelizmente, apareceu mais um treinador para atrapalhar minha carreira, mas é vida que segue e serve de aprendizado.

OA: Você ficou conhecido por jogar na lateral. Depois, passou a atuar como meia. Como foi essa transição?

RC: Nos últimos quatro ou cinco anos, eu venho jogando mais como segundo volante ou meia direita. Mas, querendo ou não, sempre um treinador me pede para atuar na lateral. Isso vai mais por questão do elenco. Para mim, jogar no meio de campo, não foi nenhuma novidade. A minha categoria de base foi toda feita como meia direita. Quem me colocou como lateral direito foi o Vanderlei Luxemburgo, na época em que estava em falta no Brasil. Ele achava que eu poderia ser feliz ali. E realmente fui.

OA: Você falou que passou a jogar de lateral por causa de uma opção do Luxemburgo. A posição de lateral ainda é carente?

RC: Hoje, não. Logo após a época do Cafu, não tínhamos laterais-direito no Brasil. Agora, a gente tem o Daniel Alves, o Maicon, que apesar da idade é um dos melhores na posição, e alguns meninos bons que estão aparecendo.

OA: Quais as principais diferenças entre atuar na lateral e no meio?

RC: Infelizmente, o lateral é muito dependente do meio de campo. Se ele não tiver volantes e meias que balancem o jogo, de um lado para o outro, vai morrer de fome. Já, o meia não, é o coração do time, do futebol mundial. A bola está sempre passando por ali. Você tem condição de participar mais da partida com a bola no pé.

OA: Acha que ainda tem vaga para você em algum clube da primeira divisão?

RC: Sinceramente, para jogar em um clube de ponta está complicado. O futebol está monopolizado. Existem alguns empresários no futebol brasileiro que para o jogador entrar em um time grande, tem que passar por eles. E o exemplo serve para mim. Quando deixei de trabalhar com meu empresário, que tinha se vinculado a um outro, grande no meio do futebol, a dificuldade de arranjar espaço na Série A ficou maior. Ele passou a não querer trabalhar comigo por conta da minha idade e por não trazer nenhum retorno a eles. Voce vê jogadores tecnicamente de niveis inferiores, mas que podem dar um retorno para os times e empresários, que tem vaga garantida (nos clubes) e ficam pulando de um para o outro, até atingir 30 anos. Jogador acima dessa idade não vale nada.

OA: Por já ter 34, você já pensa em parar? Alguma ideia do que pretende fazer quando se aposentar?

RC: Por enquanto, não. No próprio Brasiliense, os preparadores físicos e os treinadores que passaram por lá, me disseram que posso jogar tranquilamente até aos 40. Mas, pelas minhas contas, pretendo atuar por mais 3 anos para poder treinar todos os dias e acompanhar o ritmo de todo mundo. Quando me aposentar, eu tenho muita vontade de ser técnico um dia.

OA: Pretende encerrar a carreira em algum clube específico? No Botafogo, América/MG, Grêmio...

RC: Isso eu não penso. No Botafogo, é lógico que eu tive meu momento de ídolo, mas eu não posso nunca me comparar a um Túlio Maravilha, a um Sérgio Manoel, Wágner, Gottardo, Gonçalves. O clube estava a quase dez anos sem ganhar o Carioca e eu joguei machucado, o certo seria não jogar, tanto que fiquei 52 dias parado depois. Isso marcou muito a torcida. Mas eu tenho humildade e sei da grandeza que eles têm e não posso me comparar. Quero parar em um time bacana, sem jogo de despedida.

OA: Você nunca foi ligado à polêmicas, que rondam o mundo dos jogadores de futebol. Como é a sua vida fora dos campos?

RC: Uma coisa que existe é a hipocrisia. Tem muito jogador que se diz evangélico, mas não sai da noite e enche a cara. Eu fico no meio termo. Apesar de ser casado e ter duas filhas, nunca deixei de sair e tomar a minha cerveja na hora certa. Aqui no Brasil, a coisa mais estranha do mundo é jogador beber e fumar. Você vai na Europa e os jogadores bebem e fumam muito mais do que os daqui. Lá, existe o profissionalismo, eles não se preocupam com a vida pessoal do jogador, só querem que ele renda dentro de campo. Eu faço tudo que uma pessoa ''normal'' faz, lógico que tenho as minhas restrições. Sou muito feliz porque sempre soube aproveitar a minha vida da melhor maneira possível.

OA: Você afirmou em uma entrevista que os técnicos Celso Roth, Mario Sérgio e Levir Culpi foram importantes por serem diretos e sem frescuras. Tem muita frescura no futebol?

RC: Futebol hoje virou um mega evento. Os clubes aprenderam a usar o marketing. Os jogadores importantes conseguem ficar aqui muito tempo. Então, está envolvendo muita coisa. Existem empresários no meio que tem jogadores, são donos de clubes, muita influência e são só os caras (agenciados) deles que entram nos times. Os empresários não estão preocupados com os clubes. Só querem mostrar o produto deles. Nesse sentido, o futebol está chato.

OA: O Grêmio prepara o seu adeus ao estádio Olímpico. Um assunto, relacionado a isso, que vem sendo muito debatido, na internet especialmente, é o fim da ''avalanche''. O que você pensa a respeito?

RC: Isso é complicado dizer. É uma característica muito forte e tradicional da Geral. A gente fica triste, mas o futebol tem que ter um crescimento. Reclamamos há muitos anos que o Brasil tem que ter estádios modernos e agora estamos seguindo essa linha. Se tivesse alguma outra forma, um consenso, criar um cantinho só para essa organizada, não sei, é difícil. A repercussão vai ser muito grande por ser uma marca registrada gremista.

OA: Falando sobre o seu último clube, o Brasiliense chegou a ter uma boa fase na Série C, mas depois acabou não conseguindo a vaga para as quartas de final. O que houve?

RC: O ano do time foi muito ruim. Cheguei lá para disputar o segundo turno. Era capitão da equipe e fiz um ótimo campeonato, mesmo ninguém esperando. Sou muito grato ao Luiz Estevão, que sempre gostou do meu futebol e pediu para que eu voltasse. Mas existe uma pessoa lá dentro que não vai com a minha cara. O Brasiliense só colheu o que ele plantou. Infelizmente, investiu em jogadores que não eram da grandeza do clube e só no returno contratou jogadores de qualidade. Eu fui um deles, que cheguei para tentar salvar, consertar a besteira que fizeram. Mas sozinho a gente não consegue fazer nada. Mesmo assim quase conseguimos a vaga depois de uma temporada horrível, devido à filosofia de trabalho que implantaram no início do ano.

OA: Algum companheiro para destacar?

RC: São muitos nomes, muita gente mesmo, mas eu posso citar o Sorín e o Alex, nos tempos de Cruzeiro. O Pintado no América/MG. No Botafogo, o Scheidt e o Dodô. No Grêmio, o Alex Mineiro, que é meu amigo até hoje. Eu só tive problema mesmo com dois técnicos. Eles serviram como aprendizado, me ensinaram o que não fazer como treinador. E como eu tenho vontade de ser, foi uma experiência.

Entrevista realizada quarta feira, dia 28/12/2012, por telefone.