sábado, 21 de julho de 2012

No dia que o Flamengo cair


  Vascaínos, tricolores e botafoguenses tem um inimigo em comum: o time da gávea. Uso a palavra inimigo porque é a mais propícia, mesmo que o esporte, por princípio, não recomende. É inimigo mesmo. Adversários são os outros rivais.

  O rebaixamento do Flamengo é algo idealizado, um sonho, um desejo que escorre como saliva nos pensamentos esportivos daqueles que se autodenominam "anti-flamenguistas". Prefiro o termo "anti-Flamengo". Os Flamenguistas muitas vezes são amigos, boa gente, etc. A questão é a instituição. De qualquer forma, o rebaixamento à Série B é algo tão forte que existe a lenda urbana de que se houvesse um jogo em que o clube do coração precisasse vencer para ganhar o título e perder para que o rubro-negro carioca caísse, muitos, ou quase todos abririam mão do caneco. Como lenda, esta circunstância ainda não foi posta à prova.


  Algumas vezes os flamenguistas já sofreram com o drama da possibilidade do rebaixamento. Algumas vezes. Porém, no final das contas, nada passou de um susto que a união do grupo, um técnico carismático e a torcida lotando o Maracanã evitaram.

  2012, o ano do hipotético apocalipse. Mais um ano do apocalipse. É nele que estão depositadas as esperanças dos anti-flamenguistas. Não que este seja o pior elenco que o Flamengo já teve, não que Joel tenha perdido a mão. Não que a torcida vá dar as costas toda partida. Mas a teoria para a queda rubro-negra deste que vos escreve é de que será preciso uma combinação explosiva e particular demais, para que o time da Gávea seja rebaixado. E, mesmo que não seja este o ano, a boca dos anti-flamenguistas está salivando, com motivos. A conferir:

  Nenhuma final de turno do Campeonato Carioca, eliminação ainda na fase de grupos da Taça Libertadores, saída de Ronaldinho depois de o então R10 oficializar um prostíbulo no clube: a verdadeira zona rubro-negra. Vale tudo. Fatos inesquecíveis como o gol inadjetivável perdido por Deivid e a cena de Leo Moura recebendo a notícia do gol do Emelec, que tirava o time brasileiro da competição internacional. As recusas de tantos jogadores em vestir "o manto".


  Posso estar esquecendo algum fato, mas o próprio episódio em que a torcida dá as costas para o time reflete o fato de que o outrora temido pelos rivais agora é alvo de pena e chacota.

  Repito: este não é o pior time que o Flamengo já teve. A imaginação faz prever é que a queda virá - uma hora virá - em um momento de pouca esperança de coisas boas. Virá em um momento em que as coisas estiverem muito ruins e o conjunto de fatores levar o clube a uma posição na tabela que fique no quase. Aquele ponto da tabela pior que o purgatório: o ponto em que você acha já está safo, depois de não ter ficado na zona da degola em momento nenhum no campeonato, como o Coritiba, recentemente.

  Teoria, praga ou piada. Ache o que quiser. Mas que o ano está uma bela cagada para os rubro-negros e para lá de esperançoso aos anti-Flamengo... isso não há como negar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Canário à glória

Rúben Magnano, merecedor de todos os louros.
Foto: Agência O Globo
  Rubén Magnano é mesmo fabuloso. Não é o primeiro técnico estrangeiro a dirigir a seleção brasileira de basquete, mas foi ele que, com toda sua qualidade, mostrou o mais simples aos jogadores brasileiros: o esporte da bola é laranja é coletivo e intenso. Marcar é natural. Em grupo, obrigação.

  Como dá gosto ver os canarinhos-gigantes batendo de frente com os americanos. Como foi bom ver dez pontos de vantagem sobre o time das estrelas. Mais que isso, como é notável a evolução do conceito de basquete que os atletas desempenham em quadra. Todos atacam, todos voltam. Prova disso foi a quantidade de rebotes que a seleção pegou: os jogadores sempre estavam bem posicionados.

  É claro que os EUA viraram o placar. Mas o fizeram com muito mais dificuldade do que imaginaram. Vencemos o primeiro período. Não daria para manter um alto nível de consistência durante todo o jogo contra monstros técnica e fisicamente como Lebron James, Kobe Bryant, Carmelo Anthony, Chris Paul, Kevin Durant... e um banco inteiro de trogloditas talentosos, competentes, milionários, bem treinados e subservientes.

  Merecem todas as palmas aqueles que introduziram na natural filosofia brasileira de atacar, atacar, querer atacar e fazer gol, digo, a cesta. Grande trabalho também da preparação física. Não é fácil, mesmo rodando o banco quase todo, trabalhar desta forma quando muitos dos que atuam no Brasil não têm este hábito.

  Analisando pontualmente o amistoso, Kobe, um dos grandes marcadores do mundo, anulou Leandrinho. Raulzinho errou tudo que tentou, visivelmente deslocado no cenário - afinal o baixinho deles é o Chris Paul, nada franzino, como o nosso. Mas foi bom para o jovem pegar experiência. Huertas mostrou, mais uma vez, que é um dos melhores do planeta na posição e o nosso banco mostrou que, enfim, temos opções. Nosso treinador pôde descansar todos e manter um nível bem parelho de desempenho, dentro do possível. E o mais importante, a cabeça esteve no lugar todo o tempo. Mesmo quando parecia que o nosso jogo se descontrolaria, as tentativas de bolas de três sem ninguém dentro do garrafão tinham sentido. O plano de jogo foi seguido.
Lebron foi o melhor em quadra, mas o destaque da
 partida foi a ótima atuação da seleção brasileira.
Foto: Agência Getty Images

  Então vamos à Londres. Se o objetivo é medalha, a atuação de hoje certamente assustou muitos dos concorrentes, como Rússia e Espanha, e nos oficializou como sérios candidatos às fases finais. Aos anéis olímpicos, eu aviso: o canário gigante acordou.