quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Entrevista: Georgette Vidor

Foto: Ricardo Bufolin/Divulgação

  Georgette Vidor é atualmente Coordenadora da Seleção de Ginástica Artística Feminina. Já foi treinadora de nomes como Daniele Hypólito, Luísa Parente e Soraya Carvalho. Abaixo, você confere a entrevista da técnica sobre o desempenho da ginástica nas Olimpíadas de 2012, a evolução do esporte e a expectativa para o Rio, em 2016.

O Agonizante: Como você avalia a participação da ginástica nas Olimpíadas?

Georgette Vidor: Eu posso falar do feminino, que é por quem eu respondo. A nossa meta era classificar a equipe e não perder o espaço que conquistamos nas duas passadas. Além disso, fazer uma boa apresentação e mostrar ao mundo que nós merecíamos estar ali.

OA: Como estava a equipe para a disputa dos Jogos Olímpicos?
GV: Era uma geração sem renovação. Nós não tivemos tempo e não havia ginastas que fossem capazes de serem preparadas em três anos e meio. Não havia jeito de fazer esse milagre. Tivemos que trabalhar com o que tínhamos e com as dificuldades. Pegamos uma seleção totalmente lesionada e totalmente desmotivada. Sem saber pra onde ir e o que fazer.

OA: Quais foram os principais problemas enfrentados antes e durante a competição?
GV: A seleção era concentrada e passou a não ser mais. Tivemos que resgatar a motivação dos treinadores brasileiros que, por conta dos estrangeiros, também estavam desestimulados. Não houve espaço para eles. Eles não queriam dar mais treino. Todos os privilégios foram dados para os estrangeiros. Agora, não adianta lamentar. Além das lesões das atletas.

OA: O Oleg Ostapenko, treinador ucraniano, é visto como um renovador da ginástica. A chegada dele coincidiu com o crescimento do esporte. O que você pensa a respeito?
GV: Quando o Oleg treinava era um primeiro momento, onde ninguém tinha nada e aí se fez um ginásio bom, as melhores atletas foram colocadas lá junto com uma máquina de treinadores e se teve a sorte de ter meninas com talento. A Daiane chegou na mão dele pronta, a Daniele quando eu entreguei já era vice-campeã do mundo. A Jade, nós do Flamengo, já entregamos pronta também. A Laís, ele que fez, mas ela chegou com uma base. Foram quatro talentos numa geração só, tudo foi focado ali, todas as condições foram dadas, e aí claro que o resultado veio, mas depois disso tudo, não se pensou em mais nada. Porque depois disso não se fez uma renovação? Tanto que quando ele viu que essas atletas não dariam mais, não haveria a renovação, ele foi embora. Quando Curitiba estava com atletas com potencial, chamaram ele de novo, só que as atletas vieram para o Flamengo.

OA: Esperava-se muito do Diego Hypólito. Nas Olímpiadas passadas ele caiu e não conseguiu a medalha. Dessa vez, o mesmo erro. O que você acha que aconteceu?
GV: Na primeira Olimpíada, eu acho que ele talvez não estivesse preparado psicologicamente. Então pode ter errado por falta de concentração. Talvez tenha achado que estava mais bem preparado do que realmente estava. Dessa vez não. O corpo dele não resistiu. O Diego estava todo quebrado, ele errou mais uma vez porque se machucou muito. É que a gente não bota isso na imprensa. E prova de solo não tem como ficar sem treinar. Você acha que alguém que tem esse sonho de disputar uma medalha olímpica vai amarelar? Ele teve outros problemas que só quem é muito próximo sabe o quanto ele lutou pra disputar uma prova.

OA: Criou-se uma expectativa sobre os grandes nomes e os resultados não vieram. Podemos falar em fracasso?
GV: Então, quer dizer que a ginástica não foi um sucesso? Claro que foi um sucesso. Nós conseguimos uma medalha de ouro, sendo que nunca havíamos conseguido nem mesmo o bronze, até porque não dava pra conseguir devido a nossa juventude no esporte. Não interessa se é masculino ou feminino, hoje a ginástica sai com essa medalha. Se o masculino conseguiu, o feminino também ajudou nesse resultado. O feminino veio abrindo as portas e o masculino correu atrás. Agora, o feminino tem que fazer a sua parte pra voltar a pertencer à elite e estar presente em finais.

OA: Como é a rotina de um atleta? Faltou uma preparação adequada?
GV: Eu queria que um jornalista vivesse um dia da vida de um super-atleta. Cuidar da alimentação, não sair para noitada, passar um fim de semana longe da família, sentir dores. Quem é o ginasta que tem um mês de férias? No máximo, no máximo mesmo, duas semanas. É uma critica absurda que as pessoas fazem porque elas não sabem o quão difícil é estar ali.

OA: O que esperar da equipe em 2016? Teremos uma melhora?
GV: Melhor que essa equipe com certeza. Temos muito potencial. Essa equipe resistiu. A Daniele estava na quarta Olimpíada, ela treinou muito. Infelizmente essas ginastas de hoje não tinham a mesma qualidade, nem conseguiram o mesmo ritmo de treino das outras, como a Daniele Hypólito e Daiane dos Santos. A Letícia Costa, a gente espera que ela esteja melhor. Algumas mais novas são fenomenais. Agora que o coro vai comer. Elas vão crescer, sentir as dores, vamos ver se elas resistem. Temos muita coisa pela frente.

OA: Como andam os investimentos no esporte?
GV: A Inglaterra começou 8 anos antes, fora que já era uma potencia olímpica. Estamos atrasados. No geral, estamos tendo uma participação maior do que a 4 anos. Acho que no Brasil a história vai ser diferente e a ginastica vai dar um salto de qualidade. A confederação vai comprar 6 milhões em aparelhos. A escola de treinadores que o Comitê Olímpico Brasileiro está fazendo vai preparar um número grande de treinadores, serão 34, que vão fazer dois anos de curso para aprimorar e desenvolver o conhecimento. As coisas irão acontecer como nunca antes.

OA: Acredita que caminhamos para ser uma potência olímpica, não só na ginástica?
GV: Como potência olímpica, ainda é cedo para falar. Mas acho que é um passo para entender e querer mais, desenvolver o esporte como uma atividade do dia a dia. Fazer parte da cultura. Na minha época, só eu sei com era, me sentia na pré-história quando eu lembro. Estamos longe de ser potência. Contamos numa mão quantos treinadores bons nós temos, quantos se dedicam.

2 comentários:

  1. Uau, meu sobrinho do coração e eterno aluno,em um trabalho mil.
    Parabéns e muito sucesso.
    Amiga, você merec

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