quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Anéis, para que te quero?

  Quando são encerrados os Jogos Olímpicos, o sujeito que é apaixonado por esportes - não só futebol - fica meio órfão, carente. É um tempo único. Quinze dias especiais de quatro em quatro anos. É muito pouco e muito intenso. Um finado amigo-ídolo me disse em 2004 que, por ele, tiraria férias e ficaria os dias inteiros em frente à televisão, cobertor sobre as pernas, o dia inteiro. O sentimento é esse mesmo.

  Paixão, que como toda paixão, é de controle muito difícil, e por isso mesmo é de fácil manipulação. Falo do tal espírito olímpico, que encobre a realidade do esporte e do objetivo que ele tem no mundo. É de conhecimento global que atletas de alto rendimento são mais cobaias do que qualquer coisa prazerosa que a atividade possa trazer. Digo cobaias sim, na busca do limite corporal de qualquer jeito, seja explorando os aparelhos de academia e suplementos ou utilizando drogas ilícitas. Também sabemos que os motivos para tamanha apelação está nos princípios do capitalismo, que gerem esse mundinho sem-vergonha no qual vivemos. Mas a discussão de hoje não precisa seguir este rumo, especificamente.

  Indago a vocês: o êxtase esporadicamente provocado pelos esportes é correto? O que significa ser campeão olímpico? A segunda pergunta tem resposta no número um feito com a mão. Ser o melhor é ótimo. É extremamente gratificante ao ser humano que abdica da vida real em busca do sonho. A resposta que quero para a primeira pergunta é o NÃO. Não acredito que o esporte precise ser auto-suficiente.


  No fundo, a gente sabe disso - todo mundo sabe. Quando o professor de judô exige disciplina e a mãe do garoto de seis anos vê os reflexos disso na vida escolar. Quando a diretoria do clube multa o atleta por comportamento violento, que prejudica a instituição e é igualmente repreendido pelos torcedores. Quando o maratonista não desiste. Quando as atletas se cumprimentam ao final do embate. Nestas e em outras situações está explícito o tal do respeito, o pacifismo, a necessidade de se pregar bons valores.

  Aspecto social, ponto. Mas... e se tratássemos a palavra esporte como conceito educacional? Muito me admira estes conceitos (social e educacional) viverem distantes, principalmente - mas não somente - aqui no Brasil. E se a disciplina educação física fosse levada a sério nas escolas? Nas escolas particulares também, não se iludam. E se projetos sociais fossem programas? Deixariam de ter a caridade implícita, passando a estimular o desenvolvimento humano de forma eficaz... atenção: nada, nada, NADA contra quem faz o bem. Chamo a atenção para a forma como a prática esportiva é vista e trabalhada de um modo geral.


  É claro que serão os talentosos e mais esforçados quem chegarão ao topo, o que quero dizer é que o caminhar na vida seria muito mais... proveitoso - se for esta a palavra mais precisa. Imagine: são inúmeras as modalidades esportivas, olímpicas ou não. A probabilidade de não se querer praticar alguma é pequena, convenhamos. Prática rotineira, mente ocupada, valores incorporados. Alto nível é um caminho? Sim, mas não para todos, nunca será para todos. Mas a saúde e o comportamento humano agradecem. As cidades, construídas por estes mesmos seres humanos agradecem.

  No fim do texto, espero ter sido claro: o esporte é grande fator na formação de caráter. Não sozinho, mas reclamações por medalhas de cores não-ouro fariam mais sentido se os vencedores fossem construídos, de verdade, dia após dia. Os anéis olímpicos representam, hoje, não um ápice, mas uma esporádica unidade esportiva. As Olimpíadas têm capacidade midiática para ser o ponto de excelência do ser humano. Poderiam ser motivo de reflexãosobre o IDH.


  Que em Olímpia se desperte o desejo. Que os anéis olímpicos sejam mais que enfeites e bandeiras. Que o tal espírito olímpico seja concreto. Que o esporte não componha um mundo à parte, mas que caminhe junto com a vida. Assim seja.

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