![]() |
Foto: Ricardo Bufolin/Divulgação |
Georgette Vidor é atualmente Coordenadora da Seleção de Ginástica Artística Feminina. Já foi treinadora de nomes como Daniele Hypólito, Luísa Parente e Soraya Carvalho. Abaixo, você confere a entrevista da técnica sobre o desempenho da ginástica nas Olimpíadas de 2012, a evolução do esporte e a expectativa para o Rio, em 2016.
O Agonizante: Como você avalia a participação da ginástica nas
Olimpíadas?
Georgette Vidor: Eu posso falar do feminino, que é por quem eu
respondo. A nossa meta era classificar a equipe e não perder o espaço que
conquistamos nas duas passadas. Além disso, fazer uma boa apresentação e
mostrar ao mundo que nós merecíamos estar ali.
OA: Como estava a equipe para a disputa dos Jogos Olímpicos?
GV: Era uma geração sem renovação. Nós não tivemos tempo
e não havia ginastas que fossem capazes de serem preparadas em três anos e
meio. Não havia jeito de fazer esse milagre. Tivemos que trabalhar com o que
tínhamos e com as dificuldades. Pegamos uma seleção totalmente lesionada e
totalmente desmotivada. Sem saber pra onde ir e o que fazer.
OA: Quais foram os principais problemas enfrentados antes e durante a competição?
GV: A seleção era
concentrada e passou a não ser mais. Tivemos que resgatar a motivação dos
treinadores brasileiros que, por conta dos estrangeiros, também estavam
desestimulados. Não houve espaço para eles. Eles não queriam dar mais treino. Todos
os privilégios foram dados para os estrangeiros. Agora, não adianta lamentar. Além das lesões das atletas.
OA: O Oleg Ostapenko, treinador ucraniano, é visto como
um renovador da ginástica. A chegada dele coincidiu com o crescimento do
esporte. O que você pensa a respeito?
GV: Quando o Oleg treinava era um primeiro momento, onde
ninguém tinha nada e aí se fez um ginásio bom, as melhores atletas foram
colocadas lá junto com uma máquina de treinadores e se teve a sorte de ter
meninas com talento. A Daiane chegou na mão dele pronta, a Daniele quando eu
entreguei já era vice-campeã do mundo. A Jade, nós do Flamengo, já entregamos
pronta também. A Laís, ele que fez, mas ela chegou com uma base. Foram quatro talentos numa geração só, tudo foi focado ali, todas as condições foram dadas,
e aí claro que o resultado veio, mas depois disso tudo, não se pensou em mais nada.
Porque depois disso não se fez uma renovação? Tanto que quando ele viu que
essas atletas não dariam mais, não haveria a renovação, ele foi embora. Quando
Curitiba estava com atletas com potencial, chamaram ele de novo, só que as
atletas vieram para o Flamengo.
OA: Esperava-se
muito do Diego Hypólito. Nas Olímpiadas passadas ele caiu e não conseguiu a
medalha. Dessa vez, o mesmo erro. O que você acha que aconteceu?
GV: Na
primeira Olimpíada, eu acho que ele talvez não estivesse preparado
psicologicamente. Então pode ter errado por falta de concentração. Talvez tenha
achado que estava mais bem preparado do que realmente estava. Dessa vez não. O
corpo dele não resistiu. O Diego estava todo quebrado, ele errou mais
uma vez porque se machucou muito. É que a gente não bota isso na imprensa. E prova de solo não tem como ficar sem
treinar. Você acha que alguém que tem esse sonho de disputar uma medalha
olímpica vai amarelar? Ele teve outros problemas que só quem é muito próximo
sabe o quanto ele lutou pra disputar uma prova.
OA: Criou-se uma
expectativa sobre os grandes nomes e os resultados não vieram. Podemos falar em
fracasso?
GV: Então, quer
dizer que a ginástica não foi um sucesso? Claro que foi um sucesso. Nós
conseguimos uma medalha de ouro, sendo que nunca havíamos conseguido nem mesmo
o bronze, até porque não dava pra conseguir devido a nossa juventude no
esporte. Não interessa se é masculino ou feminino, hoje a ginástica sai com
essa medalha. Se o masculino conseguiu, o feminino também ajudou nesse
resultado. O feminino veio abrindo as portas e o masculino correu atrás. Agora,
o feminino tem que fazer a sua parte pra voltar a pertencer à elite e estar
presente em finais.
OA: Como é a
rotina de um atleta? Faltou uma preparação adequada?
GV: Eu queria
que um jornalista vivesse um dia da vida de um super-atleta. Cuidar da
alimentação, não sair para noitada, passar um fim de semana
longe da família, sentir dores. Quem é o ginasta que tem um mês de férias? No
máximo, no máximo mesmo, duas semanas. É uma critica absurda que as pessoas fazem porque elas não sabem o quão difícil é estar ali.
OA: O que
esperar da equipe em 2016? Teremos uma melhora?
GV: Melhor que
essa equipe com certeza. Temos muito potencial. Essa equipe resistiu. A Daniele
estava na quarta Olimpíada, ela treinou muito. Infelizmente essas ginastas de hoje não
tinham a mesma qualidade, nem conseguiram o mesmo ritmo de treino das outras, como a Daniele Hypólito e Daiane dos Santos. A
Letícia Costa, a gente espera que ela esteja melhor. Algumas mais novas são
fenomenais. Agora que o coro vai comer. Elas vão crescer, sentir as dores,
vamos ver se elas resistem. Temos muita coisa pela frente.
OA: Como andam
os investimentos no esporte?
GV: A Inglaterra
começou 8 anos antes, fora que já era uma potencia olímpica. Estamos atrasados. No
geral, estamos tendo uma participação maior do que a 4 anos. Acho que no
Brasil a história vai ser diferente e a ginastica vai dar um salto de
qualidade. A confederação vai comprar 6 milhões em aparelhos. A escola de treinadores que o Comitê Olímpico Brasileiro está fazendo vai
preparar um número grande de treinadores, serão 34, que vão fazer dois anos de curso para aprimorar e desenvolver o conhecimento. As coisas irão acontecer
como nunca antes.
OA: Acredita que caminhamos para ser uma potência olímpica, não
só na ginástica?
GV: Como
potência olímpica, ainda é cedo para falar. Mas acho que é um passo para entender e querer mais,
desenvolver o esporte como uma atividade do dia a dia. Fazer parte da cultura. Na minha época, só eu sei com era, me sentia na
pré-história quando eu lembro. Estamos longe de ser potência. Contamos numa mão quantos
treinadores bons nós temos, quantos se dedicam.
Uau, meu sobrinho do coração e eterno aluno,em um trabalho mil.
ResponderExcluirParabéns e muito sucesso.
Amiga, você merec
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluir