quinta-feira, 26 de abril de 2012

Liga das zebras

(Foto: Chelseabrasil.com)
  O Manchester United foi eliminado ainda na primeira fase. O City, idem. Tão melancólico tanto quanto surpreendente.

  Mais surpreendente ainda é uma equipe do Chipre, o Apoel, chegar nas quartas-de-final da Champions League, eliminando o sempre presente Lyon na fase anterior.

  Real Madrid e Barcelona já estavam anunciados na final desde o fim da última edição da competição. Então surge um Chelsea lá de Londres e em três chutes elimina os azuis-grenás. Fim dos tempos.

  Também na Espanha - que semana dos toureiros - os bávaros embebedam-se até quarta-feira que vem, depois de Neuer pegar pênaltis de Ronaldo e Kaká, além de Sérgio Ramos fazer a bola das estrelas entrar na órbita do cometa Halley...

  A Liga dos Campeões é por muitas vezes óbvia, quase redundante. Desta vez a taça está sendo pintada de listras pretas e brancas, uma verdadeira zebra. Uma zebra bem "curvy", pra usar o termo da moda. Que bom.

(Foto: futpopclube.files.wordpress.com)
  Pois então a final é Bayern de Munique contra Chelsea. Na-A-le-ma-nha. Estádio lotado, torcida a favor, tudo conspirando pela equipe da casa... opa, cuidado com a zebra!

  Aposta feita. Na Champions das surpresas, a maior de todas será o Chelsea menos poderoso desde que se tornou grande levar o caneco. Será muito bom ver a lógica contrariada mais uma vez. Ver a cara de Abramovich feliz e sem entender como menos lavagem de dinheiro resultou em mais resultado. Será bom demais ver a lógica capitalista ruir de vez na Europa, vendo que o dinheiro pelo dinheiro não sustenta nada. Ver o Chelsea, sem seu melhor zagueiro e sem o pulmão do time, vencer a taça. Vai ser complicado, emocionante. E por isso mesmo vai ser bom demais.

  Será excelente ver, mais uma vez, que o futebol não é jogado de um jeito só.

(Foto: futebolportugak.clix,pt)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Então não é Natal

  O que mais você vai ver nas próximas trinta horas são textos sobre o Joel. Que ele mexeu errado, montou errado seu banco de reservas, demorou - como sempre - para fazer a leitura da peleja. Tudo isso é evidente. Quero aqui fazer um breve comentário sobre a vida do profissional em geral, seja ele quem for, do ramo que for.

  Diz-se por aí que a vida é uma curva. No nosso caso, a carreira é uma curva, que vai subindo, atinge seu auge,  e cai em inevitável declínio. Vários podem ser os motivos para a queda de produção e natural desvalorização e merecem muitos louros aqueles que se mantém por cima durante mais tempo, os que fazem desta curva menos violenta, menos traumática.

  Mas por que diabos toda essa metáfora para tratar do Joel Santana? Elementar, meu caro leitor. É sabido aqui e no castelo de Greyskull que todos nós possuímos defeitos. Quando o ser humano tem seu trabalho colocado à prova no mundo público fica cada vez mais difícil de esconder tais características que irritam seus críticos. Pois bem. O multi-campeão Muricy Ramalho se encolheu no banco e se escondeu no boné enquanto o Barcelona passeava no Japão. Também dizemos que o ranzinza(ops, critiquei) faz o jogo ficar feio. Não achamos remédio para Adílson Batista se recuperar da lavada que tomou do futebol após seu desligamento junto ao Cruzeiro. Até Gandhi perde a paciência quando o papo do bar é que "o Luxemburgo não ganha mais nada, só faz besteira", e blá, blá, blá.

  De todos reclamamos, de muitos acertamos, mas o Way Joel of fafarronear é ímpar. Puxemos quatro anos na memória sem uma grande preocupação com a perfeição da lembrança: um dos maiores vexames da história do futebol brasileiro acontece no Maracanã. O Flamengo perde para o América de Cabañas, digo, do México, e Joel, que já estava de passagem comprada e contrato assinado, embarca para a África do Sul. Vai dirigir os bafana-bafana. Um bom trabalho na sempre curta Copa das Confederações e um imenso fracasso na preparação da seleção anfitriã para o evento maior. Joel volta, devolve o título de campeão carioca ao Botafogo - ponto para o Natalino - mas, no final do ano o time perde confrontos diretos com atuações medíocres e escalações bizarras. "Ah, mas o Botafogo é sempre assim..." Pode to be, mas sigamos a linha de raciocínio. Ano seguinte, decadente Cruzeiro. Breve passagem e rua. A sequência é o Esporte Clube Bahia. A volta para a outrora desdenhada casa... "peixe pequeno", lembram? Em seguida, proposta da tentadora nação rubro-negra que o idolatra...

"tu dê léfti!" o impagável Natalino (Foto: topicos.estao.com.br)

  Você deve estar se perguntando: e daí?

  E daí que por rigorosamente todos os lugares por onde passou, Joel deixou sua marca de vitórias ao seu estilo e derrotas improváveis, vexames que só os torcedores de cada flâmula sabem e sentem. Rei do rio... título tantas vezes repetido.

  Joel não é - faz muito tempo - um garoto. A idade chega para todos, o mercado vai se fechando e a qualidade é cada vez mais posta à prova. O vexame de hoje foi emblemático. Retratou que a noite foi de decisões completamente equivocadas.

  O técnico é vencedor, o personagem é simpático e a figura é impagável. Isso tudo fica na história. Mas o que sustenta o presente é a qualidade. Acorda, Joel, renasce. Vem ser gauche de novo no futebol